Porto Velho, RO - Uma movimentação inesperada nos bastidores da política rondoniense acendeu o alerta no cenário jurídico e eleitoral. A advogada Márcia Yumi Mitsutake, responsável pela defesa do Partido Socialista Brasileiro (PSB) em uma das ações mais polêmicas dos últimos meses, renunciou à causa justamente no último dia do prazo processual.
A saída, considerada “misteriosa” por aliados e adversários, ocorre em meio a uma disputa acirrada que pode alterar a composição da Câmara Municipal de Porto Velho e redesenhar o tabuleiro político local.
A renúncia de Márcia Yumi ocorre em meio à ação movida pelo Ministério Público de Rondônia (MP-RO) contra o PSB, que investiga possível fraude na cota de gênero nas eleições municipais.
Caso o MP obtenha êxito, o partido pode perder votos suficientes para reduzir o quociente eleitoral, o que levaria à cassação dos mandatos dos vereadores Everaldo Fogaça (PSD) e Adalto de Bandeirantes (Republicanos). Com isso, assumiriam as cadeiras na Câmara o ex-secretário da Semagric, Evaldo da Agricultura (PSDB), e Jamilton Costa (PRTB), este último aliado do ex-presidente da Assembleia Legislativa, Valter Araújo (PTB).
Em documento datado de 13 de outubro de 2025, encaminhado via WhatsApp ao cliente René Hoyos Suárez, a advogada Márcia Yumi Mitsutake comunica oficialmente a renúncia aos poderes outorgados em março deste ano para representá-lo nos autos 0600510-85.2024.6.22.0006 e 0600508-18.2024.6.22.0006.
No texto, ela afirma agir “sem qualquer coação ou vício de consentimento” e concede prazo para que seja nomeado um sucessor no processo. A comunicação, feita em tom protocolar, não revela os motivos da decisão, o que aumentou o clima de suspeita e especulação nos bastidores políticos.
Nos últimos meses, dois deputados estaduais e um ex-presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia estariam atuando ativamente nos bastidores para influenciar o desfecho da ação. Entre eles, o deputado Ribeiro do Sinpol (PRD) e o ex-vereador Júnior Cavalcante (PSDB), atual segundo suplente.
Segundo fontes próximas ao caso, ambos teriam pressionado por um julgamento favorável à ação do Ministério Público, o que, na prática, enfraqueceria o PSB e abriria espaço para novos nomes no Legislativo Municipal. Ainda conforme apuração, o deputado Ribeiro teria nomeado a esposa de Júnior Cavalcante em seu gabinete, reforçando a aliança política e o interesse comum no resultado do processo.
Apesar da repercussão, nenhum dos envolvidos se pronunciou oficialmente sobre a renúncia da advogada até o fechamento desta edição. Nos corredores políticos, a saída é vista como um movimento estratégico e possivelmente calculado para atrasar ou redesenhar a defesa do PSB. Enquanto isso, o partido tem até hoje, 14 de outubro, para indicar novo advogado e garantir continuidade no processo. A demora pode abrir margem para novas interpretações jurídicas e, quem sabe, reviravoltas no julgamento.
Caso o PSB perca a ação, o efeito dominó eleitoral poderá alterar significativamente o mapa de forças na Câmara Municipal. A entrada de Evaldo da Agricultura e Jamilton Costa, ambos alinhados a figuras históricas do cenário político rondoniense, fortaleceria blocos de oposição e reaproximaria velhos aliados de Valter Araújo, ex-presidente da Assembleia Legislativa, que jogou todas suas fichas em Jamilton Costa, mas acabou ficando como primeiro suplente de vereador.
A renúncia de Márcia Yumi Mitsutake, em pleno prazo final e sem explicação pública, deixa no ar um mistério político e jurídico digno dos grandes capítulos da história eleitoral de Rondônia. Com interesses cruzados, pressão política e prazos apertados, a decisão da Justiça Eleitoral poderá definir não apenas mandatos, mas o rumo de alianças e carreiras inteiras.
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